domingo, 8 de janeiro de 2017

Diário de viagem dia 01/01 à 07/01

diário de viagem dia 01/01/2017 à 07/01/2017
 Após oito dias em Puerto Rico no dia 01/01 foi hora de me despedir do meu anfitrião Ricardo, talvez uma peça chave no meu mundo de hospedagem de viajantes, pois foi ali que tive a primeira experiência em me hospedar na casa de alguém desconhecido, com quem troquei apenas duas mensagens e logo se prontificou em me receber naquela ocasião da cicloviagem nas Ruínas Jesuítas, ele me fez acreditar que eu não era o único a receber bem as pessoas com quem provavelmente nunca mais irei encontrar, mas no nosso caso voltei a sua casa e certamente irei lhe visitar novamente no final dessa viagem. Posso garantir que foi uma despedida emocionante, pois ouvir um elogio de alguém como ele é realmente algo gratificante pra mim. Deixando a minha choradeira pra trás segui pela Ruta 12 sentido oeste, logo nas primeiras horas do dia o sol já se mostrava imponente no retrovisor da bicicleta, muita água foi necessário pra amenizar o calor, mesmo assim a Selva Missioneira é algo incrível, um calor somado a umidade que deixa o ambiente uma sauna. Como o dia anterior foi de muita comilança e bebedeira resolvi ir em um ritmo mais lento que o normal, fazendo várias paradas nas sombras que encontrei. Já as 9h da manhã o termômetro marcava 37°C. Com o passar dos quilômetros algumas nuvens foram se formando no horizonte, anúncio de chuva a vista.
Os oito dias sem pedalar me custou um certo preço, a perca da resistência física, porém algo mais valioso foi às história vividas nesse período. Entre pancadas leves de chuva algumas nuvens mais densas foram se formando, assim cheguei na cidade de Santo Pipo abaixo de chuva, tendo que ficar em camping na entrada da cidade. Dia seguinte pedalei apenas 28 km até chegar na cidade de San Ignácio, lá me hospedei nos Bombeiros voluntários, tive lugar para poder tomar banho e compartilhar tereré com um dos voluntários com quem passei o dia conversando e compartilhando histórias.
Dia seguinte as 5:15 h já estava na Ruta 12 pedalando para evitar o tráfego de caminhões, segui até a cidade de Sant' Ana onde sairia da Ruta 12 e iria pela Ruta 4 sentido a Leandro de Alem, rodovia menos transitada e em boas condições, em uma barreira policial pedi informações sobre as cidades próximas e me falaram que a mais uns 60 km  eu encontraria um camping na Ruta 2 onde acontece o Festival Provincial de las Carpas e é pra lá que eu vou. Ambiente amplo e com várias barracas armadas e famílias aproveitando o balneário pra se refrescar, mas o caminho até lá foi quente, chegando registrar 45°C. Fiquei dois dias ali aproveitando o lugar e a natureza que tem em torno no local. Ali no camping conversei com algumas pessoas sobre as condições da rodovia e um possível atalho pela Ruta 94 que existia, como o tempo estava para chuva me aconselharam seguir pelo caminho maior, mas como sou teimoso e gosto de exclusividade segui pelo caminho oposto que me falaram, estradas de chão, aldeias e muita plantação de erva mate.
Tempo indo pra chuva e eu olhava mais pro céu que para a estrada, consegui chegar nos 15 km que me falaram ser de estrada de chão, mas esqueceram de me falar que tinha uns 35 km na mesma condição adiante. Meu almoço foi uma dúzia de empanadas que comprei no balneário, pedalava, comia, pedalava, comia novamente e assim segui, até a chuva acompanhada de fortes rajadas de vento  me encontrar no caminho, parei em um ponto de ônibus achando que logo passaria, mero engano. Não teve jeito, encarei a chuva e o vento de frente, estradas de terra tomadas pela água, a bicicleta fazia rangidos que me deixavam arepiado com medo de quebrar ou trancar algo, mas consegui chegar a cidade de Santo Tomé, 135 km de Pedal bem sofrido.  Nos últimos 30 km pude avistar uma família de cachorro do mato andando pela rodovia tranquilamente até que me avistaram, logo mais à frente um bando de macacos me assustaram com seus gritos nas copas das árvores, me fazendo pensar como eu estava vulnerável a qualquer animal que poderia estar ali, já que nessa rodovia  Ruta 94 pedalei mais de 30 km sem se quer passar algum automóvel por mim.
Em santo Tomé tentei me hospedar nos Bombeiros voluntários, mas sem êxito dessa vez, minha outra opção foi em um posto de combustível onde achei que poderia descansar um pouco, mas não foi dessa vez, as 3:15 da madrugada consegui ir em um lugar no posto para me deitar um pouco, mas os clientes e os mosquitos não me deixaram dormir, as 4:20h já estava de pé me arrumando pra seguir viagem. Me despedi dos frentistas do posto  Ibera que fizeram o possível para que eu descansasse, mas nao teve jeito. Bora pra estrada.
Dessa vez a ruta que eu seguiria é a Ruta 14, rodovia que muitos me amedrontaram falando ser muito perigosa, mas que nada, nem a noite em claro me fez pensar em desistir, segui firme pedalando contra o vento, 120 km até chegar na cidade de La Cruz, onde na entrada da cidade tem um centro de informação turística, me informei sobre o camping municipal. Logo que cheguei no camping procurei a ducha, e vi que estava trancada, e eu necessitava de um banho já que na noite anterior não tinha tomado banho, é isso mesmo cicloturistas as vezes não tomam banho, mas é por falta de lugar pra isso e não por ser Cascão. Voltando ao assunto, em frente ao camping municipal tem a Prefectura Naval Argentina, ali pedi pra um dos soldados se teria alguma torneira para eu poder me lavar um pouco e ele foi pedir pro responsável se isso era possível, e fui liberado pra tomar um bom banho quente, isso me dá uma alegria!!
Antes de tomar banho limpei a bicicleta e os alforges que estavam com barro do dia anterior e logo depois do banho já dei um jeito de por minhas coisas na garagem onde ficam o barco e a camionete. Ali passei a noite, mas isso quando voltei da casa de um dos soldados, o Zacarias, cara super gente boa assim como todos os outros que me receberam muito bem, Zacarias me convidou para ia na sua casa comer assado, o churrasco argentino, e claro que fui, não esperei nem convidar duas vezes, depois do assado fomos ao ensaio de uma das escolas de samba que tem na cidade, me encanta como os argentinos gostam de samba, algo que na realidade da minha região não existe. Dia seguinte pretendia seguir viagem até Yapeyu, mas a chuva fina que caia me fez pensar na minha segurança na rodovia, então fiquei por aqui mesmo, no almoço preparei um ensopado de pintado, ficou melhor que o esperado "risos" .Sei que os soldados da prefectura naval estão lendo isso agora, deixo aqui minha gratidão por terem me recebido tão bem em seu local de trabalho e diga de passagem sua segunda casa. E a salvadora da pátria Sandra Sampallo que me acolheu quando tive que sair da base da Marinha, obrigado pelo abrigo e pelas empanadas que estavam ótimas