sexta-feira, 21 de abril de 2017

Diário de viagem 29/03 a 08/04
Após alguns bons dias em Cusco e por mais que estava sem vontade de partir dessa cidade linda e cheia de histórias não tinha outra opção, não poderia ficar gastando dinheiro assim parado em um lugar por tanto tempo.
 Cusco fica situado em uma área de fundo de vale, ou seja, pra sair dali é muita subida meu amigo, assim foi, pra descer o café da manhã nada melhor que pedalar em subidas íngremes, mas isso era só o começo do que viria pela frente.
 Cinqüenta quilômetros de subida leve e enjoada, mas não podia parar de pedalar, mas aí vem a notícia boa, depois de 50 km de subidas vem outros 50 km de descida, uma maravilha, estava em 3800 metros de altitude e baixei para 1950 metros de altitude, até chegar em uma vila depois de uma bela ponte, ali parei para comprar frutas, já que isso é oque mais tem nessa vila de não mais que 40 pessoas, comprei as frutas e conversando com duas senhoras digo que queria algum lugar para armar a barraca, uma dela apontou para um lugar semi fechado logo a frente aonde tem imagens de santos, e diz: Ali, ali você pode passar a noite, aposto que vai estar bem protegido. E assim foi, levei a bicicleta até lá, jantei e arrumei minha cama, ou melhor, meu saco de dormir.
Manhã seguinte acordo cedo, como pão e frutas, as 6:30 já estou pedalando, início a longa subida que teria praticamente o dia todo, mas antes disso que tal trocar a câmara do pneu dianteiro, é, em menos de 4 km furou o pneu, mas tenho sorte, em quase 6000 km só furou três vezes. Pneu trocado, bora continuar a subir, subir, subir, são quase 40 km de subida, e uma subida muito dura, pedalo, bebo água, me alimento, descanso, esse é o ciclo. Vez ou outra paro para conversar com alguém que está na beira da estrada, por falar nisso aproveito a água que cai na beira da estrada para lavar minhas meias, já estavam insuportáveis, estava quase a ponto de jogar elas fora, mais alguns quilômetros de subidas é hora de começar a descida novamente, amanheci a 1960 metros de altitude, cheguei a 3970 metros de altitude e terminei o dia a 2600 metros de altitude, com muito Zig zag.
 Em Abancay fiquei duas noites em Lá Casita del Arbol, uma casa construída em uma árvore, toda feita de materiais recicláveis, ali compartilhei histórias com um colombiano que também está viajando em bicicleta, pessoa humilde que já passou por muitos apuros. De Abancay a Hayacucho a história das subidas se repete, chega ser chato de tanta curva e subida, no caminho muitas plantações de batatas, as plantações mais parecem jardins, tudo bem cuidados, plantações simétricas, cada variedade em sua devida área de cultivo, percebo isso pelas flores das plantas, cada cor em seu devido espaço.
Huancayo é uma cidade com muitas igrejas, ao todo 25, saio pela cidade para conhecer algumas delas, construçães com muitos anos de história, aqui nessa cidade está construída a primeira casa da América do Sul, pertenceu ao General Sucre, o comandante das tropas na libertação Peruana. Como já mencionado eu me alimento muito enquanto não estou pedalando, por esse motivo tive que ir ao mercado duas vezes, uma delas a noite, nessa hora aproveitei para conhecer a catedral da cidade, nisso já fiquei para assistir a missa que estava acontecendo. A grandiosidade da obra me impressionou, dentre tantas igrejas e catedrais que visitei essa foi uma das que mais me impressionou. Li que por volta do ano 1530 o governo implantou impostos para que fosse erguida essa obra, e aqui está até hoje, imponente e bem cuidada.
 De Huancayo sou obrigado a pegar um ônibus para sair da cidade, as chuvas no Peru estão muito fortes, como a vinte anos não acontecia, e com essas chuvas vem os deslisamento de terra sobre a pista, em alguns lugares a pista toda é levada pela força da água.
 Enquanto esperava o ônibus pra variar eu estava fazendo um lanche, pão com doce de leite, nisso um senhor começou conversar comigo e pedir da viagem entre as perguntas ele pediu se eu não iria almoçar, falei que aquele seria meu almoço, logo ele falou que eu não poderia apenas comer pão, e me convidou para almoçar, falando que ia pagar para mim o almoço, claro que fui, deixei a bicicleta na empresa de ônibus e fui almoçar, durante o almoço o senhor me conta que já tem 70 anos e ainda anda com sua bicicleta pela cidade de Lima todos os dias quando está lá. Voltamos a rodoviária eu e o senhor conversando até que outro homem começou a conversar com nós, comentei que estava viajando de bicicleta e logo ele demostrou interesse em saber como era a bicicleta, falei que logo pegaria ela para mostrar para ele. Quando tirei a bicicleta do guarda volumes da empresa as pessoas começaram a me olhar com cara de espanto, gostaria de ter uma foto de recordação do momento em que eu montei minha cozinha no meio do saguão da rodoviária, mais de 20 pessoas olhando atentas os meus movimentos para montar e mostrar como eu fazia minhas refeições com uma cozinha tão pequena, tinha homens, mulheres, senhores, policial, segurança e também quatro crianças super curiosas que me faziam muitas perguntas, tenho registrado apenas na minha memória esse momento especial onde pude saciar a curiosidade sobre como eu vivo com uma bicicleta.
 Nos últimos dias além de paisagem e monumentos também teve algumas histórias de pessoas especiais, assim como a história do Steven e do senhor taxista que irá voltar fazer cocaína, vou contar essas histórias com mais tempo.























sábado, 1 de abril de 2017

Diário de viagem dia 14/03 a 28/03

Diário de viagem dia 17/03 à 28/03
Peru
Depois de conhecer vários banheiros na Bolívia, foi hora de me despedir desse país e entrar em provavelmente um dos países com uma cultura muito forte e marcante, nada menos que a terra da cultura Inca, onde sua sabedoria na área da engenharia até hoje não foi completamente entendida.
Logo que cruzei a fronteira percebi uma diferença contra a Bolívia, aqui tudo parece um pouco mais limpo e organizado, já na primeira cidade vou a um caixa eletrônico para sacar dinheiro, adivinha, estava estragado, aproveito e tiro umas fotos da bela matriz que tem em frente à praça, sigo em busca de caixa eletrônico agora em outra cidade, mais uma tentativa em vão, mas não deixei de conhecer e fotografar a bela catedral na cidade de Pomata, quando cheguei um senhor disse que era 5 soles a entrada, expliquei a ele que eu não tinha dinheiro pois não tinha encontrado um caixa eletrônico para sacar e lhe mostro as moedas que tenho, moedas do Brasil, Argentina, Chile e Bolívia, deveria ter em tudo algo como dois reais, pronto ele aceitou as moedas como recordação em troca de eu visitar a catedral e tirar fotos, ambos contentes segui viagem rumo a Puno o único lugar onde poderia sacar dinheiro e era necessário isso, pois sem dinheiro não tem como comer e muito menos se hospedar. Comi os biscoitos com geleia de morango, laranja e banana que tinha pego antes de sair da hospedagem pela manhã e tomei dois litros de água, isso era tudo que eu tinha para percorrer 148 km de Copacabana/Bolívia até Puno/Peru então é melhor fazer isso tudo em um dia, pedalei como se não estivesse tido uma baita diarréia nos dias anteriores, o relevo colaborou comigo e apenas algumas subidas no caminho, oque não faltou foi buzinadas, aqui a rodovia é estreita e quando um motorista te vê a quinhentos metros já vem businando para lhe alertar, chega ser insuportável.
Focado na falta de dinheiro consegui cumprir meu objetivo de chegar em Puno, logo me informei sobre caixas eletrônicos, pronto dinheiro na mão quase virei gente outra vez, saio procurar hospedagem e no caminho encontrei um menino de uns 15 anos pedalando e pedi informações, nisso resolvi ir visitar onde sai os barcos para as Islas Flotantes, nisso já veio um vendedor e me convenceu em conhecer as ilhas, pronto já matei doias coisas de uma só vez, já conheço as Ilhas Flutuante e me hospedo aqui mesmo, tudo certo bora lá, chegando nas ilhas tudo é como em comunidades, na verdade isso me pareceu mais como uma grande máfia onde tentam te tirar dinheiro de onde podem e até de onde não podem, mas enfim é uma vez na vida que vou vir pra cá, então é melhor curtir, digasse de passagem que estive nas Ilhas Flutuante com a bicicleta, eles não se recordam quando alguém apareceu com uma bicicleta aqui, já que é impossível pedalar aqui, pois as ilhas são formadas por uma espécie de plantas flutuantes que são cortadas em blocos e amarradas após é colocado uma espécie de capim em camadas para dar a sustentação para poder caminhar sobre as ilhas.
Vou comentar sobre a experiência de dormir em uma dessas casinhas típicas, úmido, isso descreve bem, tudo é úmido, claro né Fabiano é uma ilha flutuante, sim, mas as cobertas são quase inutilizáveis de tão pesadas e úmidas que estão, pensei em usar meu saco do dormir, mas melhor deixar ele seco, aqui existe energia elétrica, porém é bem racionalizado, eu mesmo jantei e vim direto para cama, nem se quer liguei a lâmpada, banho quente não existe, nem sei se existe chuveiro aqui, banheiro não sei, ainda bem que não estou mais precisando muito hahah.
Depois da hospedagem fora do comum nas Ilhas flutuantes de Uros voltei para terra firme e me hospedei em Puno, aproveitando a ótima internet publiquei logo algumas fotos. Dia seguinte amanheceu com cara de chuva, e foi oque aconteceu enquanto estava comendo sanduíches de pão e queijo em uma barraquinha de esquina, na verdade era uma bicicleta com tudo oque era necessário para vender sanduíches e alguma bebida que não recordo o nome, mas acho que é Quinoa, enfim ali vendia sanduíches de queijo, sanduíches de abacate e sanduíches de ovos, provei os três e ainda levei um para a viagem, enquanto me abrigava da chuva aproveitava para recompor as energias e o peso perdido nos últimos dias, quando olho para as minhas pernas quase não acredito que elas tão finas e praticamente sem músculos tenham tanta força para me levar tão longe quanto já cheguei, e o quanto ainda irao me impulsionar até o término dessa jornada que posso dizer que é o meu sonho.
Espero a chuva passar e saio de Puno e vou em direção a Juliaca, nessa cidade tenho onde me hospedar, na casa do Ciclista de Juliaca, passei uma tarde e uma noite ali conversando com o Geovane o proprietário da casa, aproveito e dou uma incrementada em um dos alforges, agora com as bandeiras dos países onde já passei. Amanheceu o dia, fiz meu café da manhã, dois ovos fritos com pão, me despeço de Geovane e tiramos uma foto e fui pra estrada novamente, dessa vez até chegar em  Ayaviri, logo que cheguei procurei um lugar onde venda chip de celular, pronto agora estou conectado com o mundo novamente, internet é algo útil para mim, não para publicar fotos ou texto, mas para entrar em contato com pessoas que possam me receber em suas casa, e com isso eu não preciso gastar com hospedagem, já que faz um frio danado e não tem como ficar acampado por essas bandas, à o frio que estou falando é de 3°c à 5°c, não é moleza meu caro amigo.
Dia seguinte foi o dia da altitude e frio, foi o dia de bater records, o primeiro foi o record de altitude, pedalar a 4470 metros de altitude não é tão fácil, o ar rarefeito, vento frio e muitos quilômetros de subidas são algo que separa quem apenas quer curtir um pedal e quem quer seguir um sonho. O segundo record foi de baixa temperatura, 5°c com chuva,  e chuva com essa temperatura faz com que algumas gotas de chuva caem congeladas, não é chuva de granizo como costumamos ver no oeste do Paraná, são as gotas isoladas congeladas, isso me fez perder o sentido dos dedos das mãos, assim logo após uns 5 km parei em um pedágio para me abrigar da chuva e aquecer as mãos e logo fui convidado para entrar na cozinha onde tinha um fogão a lenha para me aquecer e ainda tomei um chá bem quente, isso sim me fez aquecer e logo que parou a chuva segui pedalando para completar 125 km e o outro record foi de tempo no chuveiro, fiquei mais de meia hora aproveitando a água super quente para aquecer meu corpo, pode se dizer que o dia foi bom.
Um corpo e uma mente bem nutridos são capaz de coisas incríveis.
Depois desse desafio segui para Cusco, onde fiquei no hostel Estrellita, um local muito frequentado por cicloturistas, aqui descansei e aproveitei para conhecer a cidade, uma vantagem desse hostel é que se pode deixar a bicicleta e equipamentos aqui enquanto se vai para Machu Picchu, já em outras hospedagem não se pode fazer isso, e sem contar com as pessoas carismática que atendem aqui, super recomendo, hospedagem simples e barata onde se pode confiar e fica bem no centro de Cusco, à 600 metros da Plaza de Armas.
Após vinha visita as Ruínas de Machu Picchu resolvi comprar mais algumas roupas de frio, já que aqui a coisa não é brincadeira, quando estou voltando para a hospedagem cruzei uma das ruas estreitas atrás de uma das velas catedrais da cidade, ali vi um artista de rua que faz caricaturas, olho e elogio seu trabalho, logo começamos a conversar, um Peruano que já viveu por um ano no Brasil, morou na rua, na Cracolândia, entre outras favelas perigosas onde me contou que se podia subir até certa altura do morro pois geralmente nas partes superiores é dominada pelo tráfico. Ficamos cerca de uma hora e meia conversando e quando me despedi para voltar para hospedagem ele me disse: Deus te mandou aqui, geralmente eu fico aqui sentado sozinho sem ninguém para conversar, mas hoje Deus te mandou aqui para me animar e fazer companhia, obrigado. Isso é uma coisa que literalmente não tem preço, não precisei gastar dinheiro ou estar bem vestido para fazer a diferença no dia de uma pessoa, claro que dinheiro é necessário, sem ele eu não estaria aqui onde estou, mas oque eu quero dizer é que não devemos ser escravo dele, trabalhe, conquiste seu dinheiro, mas o aproveite, não deixe que ele seja seu dono ou que ele selecione suas amizades, os sorrisos mais sinceros que eu recebo vem das pessoas mais humildes onde elas não tem a maldade de apenas querer me vender alguma coisa para obter meu dinheiro.
Como de costume me alimento muito bem quando não estou pedalando, as pessoas se admiram o quanto eu como, vou até uma padaria que tem ao lado do hostel, ali compro pães e um doce com uvas passas, delicioso e econômico. A tarde resolvo sair conhecer uma bicicletaria próxima, fui com ideia de comprar outro pneu para deixar de reserva, já que a poucos dias troquei o pneu traseiro, mas sempre tenho que levar um de reserva caso aconteça de estourar ou cortar com algo, mas enfim acabei não comprando o pneu, mas sim um alforge dianteiro para deixar minha cozinha mais organizada, já que muitas vezes deixava de comer por causar certo transtorno na hora de pegar e preparar a comida, mas agora acho que as coisas se ajeitaram bem.
Ao entardecer saio pelas ruas sentido a Plaza de Armas, minha intenção é encontrar o artista que faz caricaturas, infelizmente hoje ele não estava lá, mas fiquei sentado em um banco em frente à majestosa catedral, ali muitos vendedores me oferecem produtos, comprei um chaveiro de lhama, um menino de uns 9 anos era o vendedor, quando viu que eu era brasileiro já foi falando a capital do país, o atual presidente da república, o significado das cores da bandeira, tudo isso ele aprendeu com turistas brasileiros. De outra vendedora compro um par de luvas, de quebra muitas histórias e risadas, logo apareceu outra senhora, dessa vez comprei um par de meias, já que para onde vou vai ser muito mais frio que 5°c. Ali sentado sozinho as pessoas vem me oferecer seus produtos e sempre repito a mesma história, que não tenho dinheiro para comprar e muito menos espaço para levar na bicicleta, quando digo que viajo em bicicleta todas as senhoras ficam surpresas, um encanto ver o sorriso sincero e com poucos dentes, porém com muito entusiasmo para saber mais dos lugares onde passei.
Cusco e uma das cidades que mais gostei, uma cidade onde me senti seguro nas ruas, onde me “perdi” nos comércios, nas pequenas vendas e por onde eu imaginava ter algo interessante, essa cidade recomendo para qualquer viajante, e digo mais, tite vários dias para conhecer a cidade é seus arredores, tem muitas ruínas e atrativos naturais.