segunda-feira, 3 de julho de 2017

Diário de viagem 03/05 a 12/05

Diário de viagem dia 03/05 a 12/05

 Manta, nossa chegada na cidade foi ótima, isso porque na entrada dá cidade havia uma bike shop, paramos lá para pedir o preço de um selin novo para minha bicicleta, no entanto saímos de lá com três cervejas cada, isso foi nosso acompanhamento no café dá manhã, certamente nos deixou um pouco embriagado.
Como a cidade é teoricamente grande nós decidimos ficar em um hostel, devidamente instalados fomos almoçar no mercado municipal, de tantos mercados municipais que já fui este de Manta é o mais higiênico e bonito, tudo branco e limpo, inclusive com internet.
 A noite aproveitei para organizar meus alforges, em Montanita deixei tudo desorganizado e bagunça não é comigo quando se trata de minha bicicleta.
 Manhã seguinte acordamos cedo, as 6h já estávamos pedalando pela ciclovia que corta  e a cidade, no entanto  vimos uma cena  e nada agradável, um acidente de com uma vítima gravemente ferida, vi um motociclista caído no meio da pista, cabeça ensanguentada e pedaços de sua perna espalhados pela pista, melhor não tentar imaginar a cena. Pedalo em um ritmo forte, aos poucos Fábio foi ficando para trás, após 30 km de pedal parei para comprar um picolé e esperar Fábio, depois que ele chegou eu segui pedalando​ para não esfriar o corpo, eis que em alguma das encruzilhada Fábio errou o caminho, inclusive eu errei mas logo vi e voltei, voltei e esperei Fábio cerca de 20 minutos mas ele não apareceu, então segui pedalando até chegar na cidade de Bahia de Carataze, uma cidade em obras que não me agradou então resolvi seguir mais adiante. Por falar nessa cidade Bahia, ela foi uma das cidades mais atingidas pelo terremoto que ocorreu há alguns anos atrás, cerca de 1500 pessoas morreram nesse desastre, muitas construções vieram abaixo com o tremor.
 Passei dois dias em Canoas, um pequeno povoado litorâneo, pensei em ficar acampado na praia, porém muitas pessoas me aconselharam ficar em um camping pois à alguns “mãos leves” na cidade que poderiam me saquear durante a noite, então bora pagar 3 dólares para poder armar a barraca, no entanto valeu a pena o investimento, digo isso porque o senhor dono do camping me deu uma aula sobre a história Equatoriana, entre os assuntos novamente os terremotos na região, onde me contou que em 16 de abril de 2016 ou seja a pouco mais de um ano várias pessoas perderam a vida aqui nesse povoado inclusive ao lado do camping onde estou, aqui veio abaixo todos as construções com mais de 3 andares.
 Praia tranquila onde criança e adultos aprendem a surfar e jogam pedaços de madeira para os cães buscar entre as ondas, essa é a imagem de Canoa.
 Me planejei para sair às 6h da manhã do camping em Canoas, mas recebi um convite para tomar café da manhã com o dono do camping, mais uma vez muitas histórias da região foram o assunto da nossa conversa, as 8:30h enfim subi na bicicleta e sai, pedalei em um ritmo forte, fiz 104 km em menos de 5h entre esses quilômetros passei pela latitude zero, ou seja, pela linha do Equador, a que divide o planeta entre hemisfério norte e hemisfério sul.  No caminho vi muitas propriedades rurais com gado leiteiro, em uma dessas propriedades vi um menino de uns doze anos ordenhando uma vaca, isso me fez lembrar de “alguns” anos atrás quando eu também vivia no sítio e uma das minhas tarefas era a ordenha de algumas vacas, fazia isso depressa para poder ir andar de bicicleta ou caminhar pelas estradas e ver alguns atardeceres.
 No final dos 104 km cheguei em Pedernales, a última cidade litorânea Equatoriana, procurei um camping mas me informaram que não existe camping na cidade, pensei em seguir pedalando mas antes tenho que comprar pão, meu almoço foi um abacaxi suculento que devorei em uma sombra na beira da estrada, mais precisamente em uma ciclovia, aliás o Equador é o país onde pedalei por mais ciclovias, o ex presidente do país quando assumiu o cargo fez uma revolução nas estradas do país, entre essa revolução as ciclovias vieram juntos, praticamente em toda costa tem ciclovia para os ciclistas pedalar em segurança, voltando ao assunto quando cheguei em Pedernales fui na padaria mas o pão não estava pronto, iria demorar uns 15 minutos, aproveitei para comprar um boné já que o meu havia perdido à alguns dias atrás, comprei o boné e fiquei conversando com o dono da loja e o seu irmão, quando volto de comprar os pães eles me chamam, tem um almoço para mim, fiquei com vergonha de pedir se era de algum deles e logo comecei a devorar, eu estava faminto e a comida estava ótima, digo isso com sinceridade a melhor comida que provei no Equador foi essa, não sei se é pela fome que eu estava, ou pela alegria de ter ganhado um almoço assim de bom coração, devorei tudo e ainda ganhei um refrigerante, fiquei ali conversando mais um pouco e ganhei uma mochila, é meu amigo quando eu digo que existe pessoas boas no mundo não duvide das minhas palavras, essa mochila vou usar quando for caminhar em alguma cidade ou trekking, poderei levar minhas coisas mais bem acomodadas. Essa cidade não parou por aí em me presentear com coisas boas, segui pedalando rumo às montanhas, vi um senhor fazendo cocada, parei e comecei a observar e conversar com ele, comprei um picolé de côco, mas é de côco mesmo, ele faz o picolé, moe o côco e bate no liquidificador e põe pra congelar com um palito Iguaí picolé, 100% fruta, enfim, falei para o senhor que já havia pedalado bastante e que iria pedalar mais um pouco até encontrar um lugar seguro para acampar já que não havia camping e as hospedagens estavam muito caras para o meu bolso, logo o senhor disponibilizou seu terreno para que eu passasse a noite, além disso me deu algumas cocadas e bananas para, pronto, janta garantia, pão e banana.
 Domingo dia 07 de maio, acordei às 6h comi pão com banana, troquei de roupa e peguei a bicicleta todo feliz da vida e pra minha alegria o quatro pneu furado em toda a viagem, é uma maravilha consertar pneu as 6:30 da manhã, tudo pronto foi hora de pedalar, seriam 65 km até Puerto Nuevo, logo pela manhã o calor e a umidade do ar me fazer transpirar muito e para minha alegria encontrei uma queda d'água, passei reto mas voltei e não exitei em tomar um banho ali mesmo na beira da estrada, com o corpo refrescado pedalei, pedalei e pedalei até chegar em Puerto Nuevo, ali encontrei um ponto de ônibus onde fiz meu almoço, 300 gramas de macarrão e uma lata de atum, um ótimo almoço com direito a abacaxi de sobremesa, após o almoço tirei um cochilo de uma hora, o corpo estava precisando, depois de mais alguns quilômetros encontrei uma bica D'água, água direto da fonte, encho meu galão de 4 litros com agua e tomo outro banho, dessa vez muitas pessoas passam na rodovia e ficam olhando para o doido que toma banho assim em uma queda d'água. Em menos de meia hora depois de estar cheiroso e limpo veio mais um banho, dessa vez banho de chuva, pedalei cerca de 15 quilômetros abaixo de chuva, isso é uma maravilha para mim, me recarrega as energias. Cheguei em Lá Concórdia, parei em um mercado para comprar pão, nisso um homem começou a conversar comigo, pedindo sobre a viagem, antes de ele ir embora me deu cinco dólares para comprar comida, claro que peguei com bom gosto, vai dar pra comprar atum e macarrão para dois dias. Fiquei ali em frente ao mercado esperando a chuva parar, mas não parou, então aproveite um restaurante abandonado para ser minha casa por uma noite.
 O dia amanheceu chuvoso, instalo as luzes de sinalização e saio para a estrada, carros, motos e caminhões passam tirando fino dos meus alforges, sigo depressa para diminuir o tempo nessa condição. O cenário é bonito, cerros cobertos pela vegetação verde e ao topo uma densa neblina, entre tantas propriedades que passei em uma delas vi um pé de laranja com muitas frutas caídas no chão, parei e peguei algumas para comer ali mesmo, nisso apareceu um senhor com um facão na mão, logo trato de dizer que estou viajando de bicicleta e que peguei algumas das frutas que estavam no chão para comer, o senhor sorri e me diz: Chico usted ya desayuno?  E respondo: No, yo desperte muy temparano y las naranjas son meu desayuno, novamente o sorriso apareceu no seu rosto e me chamando para tomar café da manhã em sua casa: Entonces venga chico, venga comer un plato de arroz que te dará fuerza. E assim eu fui pegar umas laranjas e acabei comendo um prato de arroz e carne na casa do dono das laranjas, antes de sair o senhor me deu um CD, ele e seu irmão são cantores de música Equatoriana. Saio de sua casa com o estômago cheio e um sorriso no rosto e cada vez mais tendo certeza que as coisas acontecem no momento certo e tudo se encaixa no seu devido lugar, entre tantas​ propriedades porquê eu parei justo ali?! Isso é porque deveria ser assim mesmo, não precisa explicação, apenas acontece como deveria acontecer.
 Aínda com chuva segui pedalando por mais 50 km até que a chuva deu uma trégua, no entanto o relevo não era o mais fácil, entre várias paradas para pegar laranjas e muita subida cheguei a cidade de Mindo, uma pequena cidade que vive do ecoturismo e observação de pássaros, são mais de 400 espécies de aves, entre elas 25 espécies de colibris, esse sim fazem a festa nas casas, pois todas as casas tem um bebedor de água para eles saciar sua sede.
 Nessa cidade de 2500 habitantes eu descansei, fiquei quatro dias descansando e comendo para tentar repor um pouco do peso, desde o início da viagem eu não subo na balança, no entanto vejo que estou mais magro que o normal, isso é um bom motivo para comer muito. Aqui chove todo dia, me falaram que geralmente um dia da semana não chove, e foi em um dia assim que resolvi sair caminhar pelas estradas rurais da cidade, no caminho muitos pássaros, mas são muito rápidos e ariscos, não consegui tirar nem uma foto decente, mas em minha memória guardo o som do seu canto, ou melhor, de seus cantos.


















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