segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Diário de viagem dia 22/06 a 01/07

Diário de viagem dia 22/06 a 01/07

Depois do descanso em Pasto foi hora de levantar acampamento e seguir viagem para Mocoa, cidade esse que quando eu estava no Peru assisti várias matérias de um grande deslizamento que aconteceu nessa cidade, segundo os populares mais de 1300 pessoas vieram a falecer nessa tragédia no entanto os órgãos oficiais contabilizam apenas 300 pessoas, mas até chegar lá eu tenho um longo, sofrido e belo caminho, isso por que a distância que separa as duas cidades é de 150 km, no meu primeiro dia pedalei 60 km até chegar na cidade de Sibundoy, uma pequena cidade localizada no vale entre as montanhas, cidade pequena e tranquila.
De Sibundoy até Mocoa seriam 90 km, logo no começo do dia fazia bastante calor, isso ainda no vale, aos poucos a altitude foi aumentando e em caminho oposto a temperatura baixando. O sacrifício das subidas ingrimes era compensado pela paisagem, aos poucos eu ia observando a estrada ficando lá embaixo enquanto cada vez mais eu vou subindo.
Pela primeira vez na viagem eu engoli meu orgulho e desci da bicicleta e empurrei morro a cima, a Colômbia me mostrou que aqui nas suas montanhas eu não sou nada, simplesmente sou mais um ciclista qualquer tentando vencer suas montanhas ingrimes.
 A primeira subida foi de 18 km e uma descida de uns 10 km, logo tinha mais subida, 4 km e um pequeno trecho declinado e adivinha?? Claro, mais uma subidinha de 10 km, e essa a pior de todas, chegando no ponto mais alto, batizado de Trampolim de la Muerte, asseguro que essa foi a estrada mais bonita que já passei, não há Serra do Rio do Rastro, Camino de las Cornizas, Los Caracoles e entre tantas outras que já pensei, nada se compara a essa estrada  estreita, sem pavimento que por alguns momentos você passa do nível das nuvens e sempre em meio a uma mata exuberante com cascatas, rios e penhascos.
Depois do maravilhoso dia de pedal que asseguro que valeu o esforço das intermináveis subidas enfim cheguei a Mocoa, ali me hospedei, me alimentei bem para repor as energias e no dia seguinte pedalei até Puerto Asis, mais uma vez foram 90 km até a cidade na beira do rio Putumayo, ali eu iria pegar um barco e seguir rumo ao rio Amazonas e então entrar no Brasil, mas as vezes nos mudamos de ideia meu caro amigo, e já vou contar oque me fez mudar de ideia.
Mais uma vez o caminho era maravilhoso, com algumas subidas que me fizeram exigir dos músculos das pernas. Quem me conhece sabe que não sou de retornar caminhos por onde já passei, para mim sempre foi uma tortura ter que retornar por onde eu já passei, mas enquanto eu estava pedalando eu pensei várias vezes que esse caminho eu poderia percorreruitas vezes e não ficaria chateado, mais uma vez a Colômbia me mostrando coisas que nem eu sabia sobre mim mesmo. Percori os 90 km mais de pressa que eu esperava, cheguei na cidade super cedo, procurei uma hospedagem onde tivesse internet para pesquisar mais sobre o roteiro que iria percorrer de barco e durante esse tempo várias vezes fiquei em dúvida se deveria já partir da Colômbia, pensei, pensei, pensei, e durante a noite enquanto conversava com algum aí do Brasil, comentei que não queria voltar agora para o Brasil, ainda não sinto que é hora, alguma coisa me dizia para fazer meia volta e retornar para Colômbia e quem sabe para algum outro lugar. Eu e essa pessoa conversamos e isso me ajudou a decidir, não será agora que voltarei para a terra tupiniquim, claro que estou querendo conhecer realmente nosso país, mas ainda não vai ser agora, algo me diz que tenho algo a aprender aqui na Colômbia, sempre sigo minha intuição e dessa vez ela me disse para ficar e quando eu achar que é hora de voltar eu já sei o caminho.
O cara que não voltava pelo mesmo caminho mudou, mudou e voltou pelo mesmo caminho lindo que no dia anterior ele tinha pedalado, isso fez bem para ele, ele pedalou feliz porque iria conhecer mais pessoas, histórias, paisagens, vai conhecer mais sobre ele mesmo, nessa mesma terra que logo nos primeiros dias já lhe encantou ele vai sentir alegrias, medo, frio, calor e como sempre essa mescla de sentimentos é oque ele leva de recordação, cada vez com menos dinheiro mas com a cabeça e o coração cheios de coisas boas para compartilhar com quem cruza pelo seu caminho.
Quando voltei de Puerto Asis fiquei em um camping nas margens da rodovia, isso perto da entrada do atrativo da região, as cachoeiras do Fin del Mundo, mas para chegar nessas cachoeiras tem que encarar uma trilha de 6 km pela selva, trilha escorregadia para quem a percorreu com os pés descalços, mas o contato com a natureza é ótimo, sentir o barro, terra firme, as pedras e passar pela água sentindo isso em seus pés.
Depois de conhecer as cachoeiras voltei para cidade de Mocoa, ali estava indo em direção aos bombeiros da cidade, eis que no caminho pedi informações para um homem e logo ele me pediu se eu era brasileiro, disse que sim, então ele me convidou para ir para sua casa, lá eu poderia ficar tranquilo, o segui e fui para sua casa, chegando lá tomei banho e logo já tinha um bom prato de comida me esperando. Enquanto estava jantando esse homem de nome Carlos me mostrou uma foto no seu celular e me dizendo que eu tinha conhecido seu filho no caminho do Trampolim de la Muerte, e por isso eu poderia ficar ali, comecei rir pensando em como é esse mundinho, a três dias antes conheci seu filho e tirei uma foto com ele e depois estou ali em sua casa, com um teto para passar a noite, comida e companhia, o mundo é bão Sebastião!!!
Ali em Mocoa fiquei mais 6 dias, dias ótimos com muitas risadas, comidas, banho de rio e descanso.



























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