quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Diário de viagem 23/01-30/01

Diário de viagem dia 23/01 a 30/01

Depois da emocionante despedida da família Francou segui viagem pela Ruta 14, pretendia pedalar 120 km noite a dentro, mas minha cabeça estava voltada nas boas lembranças vividas com aquela família, entao resolvi pedalar até o anoitecer e parar em algum lugar seguro para passar a noite, parei em um posto de combustível na beira da Ruta 14, ali passei a noite conversando com um frentista gente boa com quem compartilhei histórias, dormi cerca de 3 horas em uma ducha que ainda estava em construção, emnum lado eu dormindo em cima do isolante térmico e em outra ducha a bicicleta estava trancada e segura.
Amanheceu o dia e pedalei rumo ao Uruguai, chegando na divisa dos dois países mais uma vez não pude passar pedalando, pedi uma carrona e gentilmente o dono de uma camionete aceitou me levar até o outro lado da ponte já em terras uruguaias.
Faço novamente os trâmites de aduana e alguns policiais me chamam pra conversar, pedem da viagem e converso numa boa, até que me pedem do facão que levo junto na bicicleta, fico com medo de querer me tomar ele, mas conto a história que ocorreu em Missiones e todos me dão razão pra ter ele junto, fico mais tranquilo e sigo adiante. Passei o dia pedalando nas subidas e descidas uruguaias, aos poucos umas nuvens foram se formando mas eu queria chegar até a cidade de Nova Palmira para ficar em um lugar seguro, ia procurar os bombeiros ou a polícia para armar acampamento por perto, mas a chuva, vento e trovões não deixaram seguir como planejado, passei a noite em um ponto de ônibus, isso mesmo, o ponto de ônibus foi minha casa, me abrigou da chuva, pude fazer minha janta e dormir sem me molhar, na hora de dormir tinha muito vento e frio, usei o saco de dormir para me proteger do frio e também deixei o facão ao meu lado para me proteger caso alguém aparecesse durante a noite. Noite tranquila de sono, única coisa desagradável foi quando acordei e vi que tinha sido saqueado por formigas, havia feito ravióli na janta e caprixei na dose para sobrar para o café da manhã, mas as formigas também gostaram.
Comecei a pedalar as 7h da manhã, o vento na direção sul/norte era o oposto do meu caminho, pedalei 130 km com vento na cara, exigindo ao máximo para fazer uma média de 13km/h sendo que o normal seria uma média de 19 a 20 km/h sem muito esforço, isso foi o Uruguai me mostrando que aqui os ventos não são para brincar, mas em meio a todo sofrimento passado nesse dia algumas paisagens foram de tirar o fôlego, estradas em meio as árvores lembrando aquelas histórias de filme infantil, cavalos soltos pastando tranquilo na beira da rodovia, vastas plantações de uvas, e cidades tranquilas onde a bicicleta é visivelmente o meio de transporte mais utilizado, oque me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas idosas pedalando.
Carmelo foi uma cidade que me chamou a atenção, na entrada da cidade senti um aroma adocicado no ar, como se estivessem passando perfume na cidade toda, parei em uma banca de frutas, comprei algumas laranjas e consumi algumas ali mesmo, conversando com a senhora que atendia, perguntei sobre aquele aroma e ela disse que era normal, que nem se dava mais conta desse cheiro pois já estava habituada, então na minha memória Carmelo sempre será a cidade mais perfumada por onde já passei.
De Carmelo a minha próxima cidade seria a tão sonhada Colônia del Sacramento, cidade com quem fiquei tanto tempo sonhando em conhecer, posso dizer que esse era meu objetivo no Uruguai, mas pra chegar até lá foi sofrido, ia contando os quilômetros. Na entrada da cidade parei em um posto de combustível pedir se tinha ducha para me banhar ali, não tinha, mas me indicaram um banheiro público do camping municipal, usei o mapa of-line do celular para me localizar, no entanto esqueci de olhar a direção, segui para o lado errado, quando me dei conta fiz meia volta e fui para o lado certo, quando olho para o lado e vejo um batalhão dos bombeiros, parei e pedi se poderia tomar um banho. Permissão concedida, banho tomado, fiquei por ali conversando com um dos bombeiros, o Rodrigo, cara super gente boa que tinha o maior interesse pela viagem, ficamos la conversando e a noite quando saiu de guarda fomos conhecer a cidade, entre as vielas históricas muitas histórias contadas de ambas as partes e mais uma vez pude perceber que estava inspirando mais uma pessoa a se soltar de suas amarras e ir em busca de seus sonhos, que até então Rodrigo pensa em conhecer seu país, o Uruguai. Explique a ele que por minha experiência o mais difícil é dar o passo inicial, após isso as coisas vão acontecendo como um passe de mágica.
Um viajante com dinheiro contado para alimentação, transporte e emergência e um bombeiro também com uns trocados na conta bancária, isso foi o suficiente para juntarmos 250 pesos uruguaios para comprar uma pizza e um vinho barato, sentar em um lugar onde pudéssemos usar a internet de graça e rir bastante. Isso é uma das coisas que quero mostrar as pessoas que encontro no caminho, não é preciso de muito para ter bons momentos. Já era tarde e Rodrigo precisava voltar para o batalhão, antes disso me presenteou com uma blusa, excelente para usar em noites frias.
Todas as hospedagens em Colônia del Sacramento são teoricamente com um valor alto para mim, resolvi passar a noite em claro para economizar esse gasto. São 2:30 h da madrugada e estou pedalando pelas ruas da cidade, conheço os pontos Turísticos de uma forma diferente, apenas eu e a liberdade. Noite com vento frio, nas duas horas que pedalei e fotografei a cidade, encontrei apenas três pessoas, um casal que andava de mãos dadas e um garçom empilhando as mesas do restaurante. São 4:40h vou ao terminal de transporte marítimo onde parte o barco que me levará até Buenos Aires. Dormir três horas encolhido nos bancos, nesse meio tempo fui acordado duas vezes pelos seguranças, uma das vezes por que minha bicicleta tinha caído do lado de fora aonde era permitido deixa-la e outra vez por que não era permitido por os pés em cima do banco, pedi mil desculpas e expliquei aos seguranças minha história, que nos últimos três dias havia pedalado 360 km e dormido menos de 10 h de sono.
Compro a passagem para a travessia entre Colônia del Sacramento e Buenos Aires, custou 540 pesos uruguaios. Na hora de fazer os trâmites de aduana levei no mínimo dois chingoes, um por estar usando o celular e outro por estar com a identidade muito velha, aí apresentei carteira da universidade, CPF, cartões de crédito e tudo mais que eu tinha, a aduaneira me deu mais uma juntada e disse que na próxima vez não entrarem na Argentina com aquele documento, respondi com um Ok e sai de orelhas baixas.
Em Buenos Aires desembarco no Puerto Madero, lá tive que passar todos meus equipamentos no raio x, 40 minutos para tirar e recolocar tudo no lugar, sigo para estação de trem. Eu sonhava em pegar um trem entre Buenos Aires ate Bahia Blanca, isso para minha segurança em não pedalar na região da capital, chegando na estação de trem tenho a péssima notícia que só tem vaga para dia 10/02 para o trem, literalmente estou ferrado, nesses poucos minutos que estive por ali todos me falavam para não desgruda da bicicleta, começo a ficar preocupado.
 Conversando com um policial sobre a segurança da região de repente chegou um Ciclista conversar comigo, e me disse pra sair o quanto antes da região, pois ali assaltos são constantes. Vou a estação rodoviária do Retiro, de lá partem os ônibus de longa distância, vou em cinco guichê e pergunto o valor da passagem até Bahia Blanca, todos em torno de 1000 pesos argentinos, porém não levam a bicicleta e sem bicicleta não tem viagem. Consigo uma empresa que transporta a bicicleta, 1050 pesos argentinos a passagem, 400 pesos para embalar a bicicleta mais 200 pesos para levar ela no ônibus, a brincadeira custou em torno de 320 reais para sair da capital onde sentia que não era lugar pra mim, que minha segurança estava em risco a qualquer momento. Nesse tempo de espera para a partida do ônibus conheci o cara que embalou a bike, Guilherme, um argentino super gente boa com quem fiquei a tarde toda conversando e quando tive que levar a bike no andar superior ele me ajudou, acho que você deve estar lendo isso né brother, sou grato pela sua ajuda e pelo livro que me presenteou.
Com a bicicleta carregada pude ficar um pouco mais tranquilo. Na viagem que duraria cerca de 9 h pude dormir um pouco, afinal estava exausto fisicamente e psicologicamente por ter se passado tudo isso em Buenos Aires.
 Você deve estar se perguntando por que vim a Bahia Blanca, é que no início da viagem ainda na província de Missiones conheci um oficial das forças armadas da Argentina, entre uma pizza e uma cerveja que ele pagou ele disse que se eu fosse vir pra cá poderia ficar na sua casa, e foi oque fiz.
Conversei com esse meu amigo falando que estava indo pra lá, e falou que era pra esperar na rodoviáriaque ele iria me buscar em Bahia Blanca, foi o que fez, carregamos a bicicleta e os equipamentos no carro. Minhas boas vindas foi a base de cerveja e carne assada.
Aproveito para limpar e lubrificar a bicicleta, organizo a cozinha e lavo as roupas. Tudo pronto para seguir viagem novamente.












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