diário de viagem dia 20/02 a27/02.
Deserto do Atacama o ambiente mais árido do planeta.
Los Vilos serviu para recarregar minhas energias, seja pela animação da Fernanda e do Alfonso, pelas histórias, comidas e algo que acabou acontecendo, mas a parte que eu não contava é que em uma semana eu perderia o condicionamento físico e o ritmo da viagem, mas pra voltar isso nada melhor que subidas, muitas subidas. Para comemorar os dois meses de viagem pedalei 95 km com muitas subidas, entre uma dessas pequenas subidas de 9 km um carro passou por mim e buzinou, acenei e segui pedalando, mais a frente vejo esse carro parado a cerca de um quilômetro estrada acima, vou de encontro e começo ouvir um som diferente, olho para o alto um drone sobrevoando e tirando fotos de mim, me acompanhou cerca de 500 metros sempre me acompanhando do alto, a subida era tão íngreme que não tive ânimo para parar e conversar com o piloto do drone.
Nesse região as cidades já vão ficando escassas, em um pequeno povoado resolvi pedir se teria algum lugar para acampar, permissão concedida passei a noite ao lado de uma igreja, sem barraca, apenas com o isolamento térmico e o saco de dormir, assim olhando as estrelas que nessa região já são incríveis, durante a noite acordo várias vezes para observa las, em um desses momentos vejo três cometas em menos de 5 minutos e em outro momento 4 cometas na mesma região um seguido do outro, algo de menos de um minuto, fantástico.
Dia seguinte pedalei 60 km até chegar em um posto da Copec, precisava chegar até a cidade de La Serena para encontrar uma casa de câmbio, meu dinheiro Chileno estava acabando e ainda tinha pesos argentinos para trocar, pensei que a forma mais rápida seria pegar uma carona, bora lá pra saída do posto. Consegui carona com uma família, pai, mãe e dois filhos.
Uma família e mais 5 amigos estavam indo a praia próxima a La Serena, perfeito, ia ate lá e seguiria pedalando, mas me falaram que passariam a noite nessa praia e no dia seguinte iriam até Bahia Inglesa, uma praia mais ao norte, essa praia já tinha ouvido falar e sabia que era linda, então por que não aceitar o convite e ir com eles. Viajamos a noite mesmo, chegamos a Bahia Inglesa as 3 h da manhã, armamos acampamento e bebemos uma cerveja para comemorar, então fomos descansar. Dia seguinte ficamos aproveitando a praia é a noite ficamos conversando em volta de uma fogueira que fizemos na praia, igual nas cenas de filmes, uns sentados, outros deitados e todos bebendo, vinho ou cerveja e comendo marshmallow, e o céu, à o céu estava lindo entre as nuvens que cobriam parte das estrelas.
Obrigado por terem me acolhido como se fosse parte da família, levarei na memória os bons momentos que passamos juntos, um até breve acho que é justo.
Como eu estava com pouco dinheiro Chileno Javier me fez a gentileza de trocar um pouco de dinheiro para que eu chegasse até Antofogasta, ali em uma cidade maior seria mais fácil de conseguir casa de câmbio, até isso o cara fez, me quebrou um galho enorme pois na ruta do deserto onde seguiria pedalando são apenas vilas as margens da praia, em muitas delas nem se quer tem mercado ou alguma venda para comprar pão ou algum alimento, foi com essa ideia que me abasteci em Caldeira, ali fui até um supermercado e fiz as compras, ovos, aveia, banana, açúcar, macarrão, pão, atum, condimentos, tomates, biscoitos, cebola e água, água pois necessitava de água e de garrafas plásticas para usar mais adiante, a brincadeira me custou cerca de 70 reais essa ida ao mercado, mas era necessário comprar alimentos, mas não fazia ideia de quanto isso iria pesar, quando sai com as as sacolas na mão me dei conta de que me faltaria espaço para guardar tudo, enquanto isso as pessoas ficavam me observando eu lutando com a falta de espaço.
Caldeira é uma cidade portuária com um astral nada bom, muitos pedintes nas ruas, não sei explicar mas minha intuição me disse que ali não era lugar para mim, então depois das compras peguei estrada rumo ao norte. Estrada que vai margeando o oceano pacífico, lindas praias bem próximas a Ruta 5, sempre escolho algum lugar lindo para fazer minhas refeições e lanches, me alimento e aproveito o visual. Caindo a noite é hora de acampar, escolho um mirante para passar a noite, faço minha janta, me arrumo e vou para o saco de dormir, durante a noite acordo algumas vezes para observar as estrelas, mas em poucos instantes já volto a dormir, o cansaço é maior que a vontade de ver as estrelas.
Acordo antes do sol aparecer por de trás da Cordilheira, tomo café da manhã, pão, ovos, aveia e banana, energias carregadas para mais um dia longo de pedal.
Pedalo o dia todo, paro apenas para fazer as refeições, pedalo no meu limite, só paro quando o corpo não aguentava mais seguir adiante, nas noites a história se repete quando o assunto é acampar, comer e dormir.
Sempre que encontro algum lugar abasteci meu reservatório de água, ando com 8 litros de água, o suficiente para um dia e meio, água para tomar café da manhã, almoço, jantar e água para beber durante o dia.
A vegetação no deserto aos poucos vai se acabando diante de meus olhos, onde no início do deserto existe alguma vegetação agora é apenas areia, areia e lixo na beira da Ruta.
Faltava cerca de uma hora para o sol de pôr, minha água estava acabando, eu no meio do deserto, resolvi levantar minha garrafa plástica pra pedir água, passam alguns caminhões e nada de parar, ao longe vejo um caminhão cegonha, esse para e me dá água, alem disso me diz que é melhor ir com ele pois a ruta mais adiante é perigosa, não tem acostamento e já estava ficando noite, já que é assim então bicicleta em meio aos carros novos, seu nome é Iban, morador de Santiago que já levou outros ciclistas nessa mesma rodovia, seguimos viagem noite a dentro até chegar na cidade de La Negra, paramos e ele me convidou para comer um lanche, comemos e ele pagou, essa noite dormi em cima do caminhão cegonha, com o isolante térmico e o saco de dormir ao lado da bicicleta, não poderia arriscar em deixar ela sozinha.
Acordei às 6 da manhã, dormi cerca de 4:30 h descareguei a bicicleta me despedi de Iban, eu fiquei ali fazendo meu café da manhã e ele foi entregar os carros.
No meio do deserto o sol escaldante, e sem sombra para descansar, pedalo a muitos quilômetros em ascensão, serão muitos quilômetros mais sunindo, as panturrilhas parecem que vão queimar, no entanto encontrei um presente, encontrei um pacote de biscoito, algo engraçado, como se alguém tivesse deixado ali para mim ou para outro viajante, fico feliz e agradeço a quem fez isso, sem se quer saber se foi deixado ou perdido, mas enfim, quando como o primeiro biscoito me veio na lembrança os biscoitos de manteiga que minha avó faz, me deu uma saudade dela, me veio na lembrança as comidas, os biscoitos, as cervejas que tomávamos ao meio dia ou no final do dia, não imaginava que já sentiria saudades dela tão rápido.
Enfim segui pedalando rápido para diminuir o tempo nessa região árida de paisagem monótona, uma rodovia entre as montanhas de areia ou um terreno nada lindo de se ver, pelo menos esse é meu ponto de vista, mas estou pedalando no deserto mais árido do mundo é claro que não teria flores no caminho.
No caminho encontrei o Aldo, um Chileno que já viveu no Brasil e está me dando a maior força aqui em Calama, me acolheu em sua casa e está me dando um apoio em um momento difícil da viagem, o plano era sair de Calama, pedalar até San Pedro de Atacama e de lá seguir para o Uyuni na Bolívia, no entanto o inverno boliviano está trazendo chuvas aqui para o deserto e com isso as estradas ficam interditadas para qualquer meio de transporte, imagine para uma bicicleta né.
Esse contratempo me tirou o sono, me deixou sem saber oque fazer, Aldo me levou até os bombeiros para conversar com eles e ouvir o conselho de quem intende da região e me falaram para não seguir pedalando pois seria muito arriscado isso, e mais uma vez estou sem saber oque fazer. No entanto hoje dia 27 pela manhã sai com a bicicleta para seguir até San Pedro de Atacama, o tempo está fechado com cara de que vai chover a qualquer momento, então parei em um posto de combustível para utilizar a internet e dar sinal de vida, olho a previsão do tempo e marca tempo bom apartir de amanhã, resolvo ficar mais um dia aqui em Calama e amanhã ver oque faço, se tento seguir a San Pedro ou se sigo o conselho dos bombeiros e vou de ônibus até a Bolívia e fico em segurança, pois como os bombeiros me avisaram que a chuva vem e leva tudo que está pela frente, pois a água vem das montanhas com toda força e não há barraca ou algo que vá me deixar em segurança. Então até breve e no próximo diário direi se segui pedalando ou se o conselho dos bombeiros falou mais alto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário