Villarrica dia 06/02 à 11/02
Após digitar o último diário fui em frente a um restaurante onde no dia anterior eu Aël e Albert fomos beber um suco para poder ter a senha da internet e carregar o celular, ali em frente ao lago Villarica eu estava sentado sozinho carregando o texto e as fotos quando dois senhores começaram conversar comigo, são moradores de Santiago capital do Chile, um deles todos os anos fica de 30 a 40 dias viajando pelo sul do seu país, o outro é a primeira vez que está visitando as maravilhas do sul Chileno, ficamos sentados na grama conversando por mais de uma hora, o viajante mais experiente me contando sobre suas viagens pelos países vizinhos, inclusive ao Brasil, o assunto ia fluindo muito bem, inclusive ele me incentivando para que eu arranjasse uma forma de ganhar dinheiro com a viagem, a se fosse fácil assim as coisas meu caro amigo, depois de um tempo de conversa me convidaram para conhecer a sua "casa" por alguns dias, os dois estão vivendo durante as férias em um carro, nada de super Motor-home, é em um corsa quatro portas, tudo original exceto a cortina que adaptaram para o sol não acordar eles tão cedo, ali em volta da sua casa tomamos café e comemos sanduíches de atum e tomates, conversamos mais um pouco e parti, parti com uma alegria imensa em compartilhar histórias com pessoas assim, que provam que não precisa ter o melhor carro, melhor equipamento ou melhor seja lá o que for, só é prexiso ter a sua melhor força de vontade para fazer oque realmente queremos.
Passamos a noite novamente em frente ao vulcão Villarica, dessa vez com três bêbados conversando e ouvindo o som em alto volume, mas não poderíamos reclamar pois ali era proibido acampar.
Amanheceu o dia tomamos café da manhã, eu Aël e Albert, após se despedimos de Albert, pois ele iria seguir viagem com sua moto, e eu e Aël com nossas bicicletas. Mais uma vez te digo que foi um prazer enorme te conhecer Albert, muita sabedoria nesses seus poucos anos de idade, e que seu projeto de ajudar pessoas se concretize.
Já eu e Aël seguimos rumo a Ruta 5 também conhecida como Panamericana, no caminho muitas frutas a disposição, maçãs, pêssegos, amoras e as deliciosas ameixas, tudo a disposição, só levar a mão até a árvore e colher os frutos. Chegamos a cidade de Freire, ali fomos tentar um banho, pois já fazia sete dias que só tomávamos banho em rios e lagos, é estávamos precisando mesmo de uma ducha quente, mas infelizmente não tinha água quente no ginásio onde conseguimos uma ducha, porém a simpatia da senhora compensou, ela ficou encantada com os dois viajantes, enquanto Aël tomava banho ela conversava comigo e tirava muitas fotos para enviar para suas amigas e sempre falando que eu me parecia com um ator de novelas Chileno, imagine a minha reação, não parava de rir.
Dia seguinte pedalados rumo ao norte, sentido a Santiago, um dia bom de pedaladas, porém na hora de dormir não foi tão bom assim, dormimos a uns 20 metros da Ruta 5 a Ruta Panamericana, muitas vezes durante a noite fui acordado pelos ruídos dos caminhões que não param nunca, dia seguinte pegamos uma carrona de 180 km, um Uruguaio gente boa nos viu em um posto de combustível almoçando e resolveu conversar com nós, nisso adiantamos dois dias de viagem.
Chegamos na cidade de San Fernando, aqui eu e Aël fomos ver os preços da passagem de trem até Santiago, 3800 pesos chilenos, preço aceitável, porém eu ainda não tinha onde me hospedar na capital chilena, então Aël seguiu de trem e eu fiquei na cidade para revisar e trocar peças na bicicleta.
Quando estávamos pedalando pela cidade para chegar na praça e se conectar a internet vi uma bicicletaria, aqui vim depois de me despedir do meu companheiro de viagem, após nove ou dez dias compartilhando a estrada foi hora de cada um seguir seu caminho, um prazer imenso de ter lhe conhecido, muitas histórias pra relembrar e rir, e quem sabe um dia a ruta nos leve ao mesmo caminho novamente, abraço e sucesso na sua carreira de médico. Voltando a história da bicicletaria, cheguei a Biker Dumoso, pedi o valor de um selim, acabei trocando o selim, catraca, corrente. Enquanto fazia o serviço pedi a Hector Dumoso o proprietário se poderia deixar a bicicleta na oficina para que ficasse em segurança, e eu iria passar a noite acordado na praça, tudo combinado a bicicleta ficou e eu fui, fiquei menos de 15 minutos sentado em um banco na praça e lá veio Hector falando para eu ir com ele em um assado com seus amigos de curso, questionei sobre o meu estado de limpeza e disse que só iria se ele também fosse como ele estava, direto da bicicletaria, e ele falou que também iria ir como estava, menos mal, dois sujos é melhor que um nessa situação. Não me recordo quantos dias fazia que não comia carne, e no assado pude saborear uma costela ao molho barbecue, sinceramente estava ótimo ainda mais com a galera super animada que estava lá também, desculpe por não ter fotos mas é que meu celular tinha ficado na bicicletaria carregando. Depois do assado advinha quem tomou banho na água quente?? Quem ? Quem?? E advinha quem dormiu em uma cama confortável? Quem? Quem? Fui eu, até aí eu já não sabia como agradecer toda hospitalidade que já tinham me proporcionado, fiqui muito feliz pelo banho e cama eis que no dia seguinte fomos a bicicletaria e tomamos café da manhã, me despedi e agradeci tudo oque tinham feito por mim, peguei a bicicleta e sai pelas ruas da cidade de San Fernando, pedalei uns 500 metros e quando forcei o pedal em uma marcha a corrente pulava, tentei regular mas não adiantou, voltei na bicicletaria, lá Hector tirou o pé de vela e vimos que a coroa do meio estava muito gasta, e com a corrente que tinha antes ela se encaixava, mas com a corrente nova ela não dava certo, aí Hector começou a saga em busca de uma coroa que dava certo, procurou na loja toda uma peça compatível, desmontou outros pé de vela e nada dava certo, foi em uma loja de um amigo e também não tinha a dita coroa, tentou por outro pé de vela e também não deu certo, eu já estava com dó de tanto que ele estava tentando me ajudar, até que ele me falou que ia procurar em uma outra loja de outro amigo e não é que voltou feliz da vida com um pé de vela novo na mão, um igual ao que tinha, juro pra vocês que ele estava feliz por ter conseguido encontrar a dita peça e poder me ajudar. Tudo instalado e regulado é hora de acertar esse pé de vela, pois a catraca, corrente e selim eu tinha pago na noite anterior, Hector tinha me feio um super desconto, mas dessa vez que fui pagar ele não quis receber, disse que não precisava pagar e poderia usar o dinheiro para comprar chocolates durante a viagem hahah juro que chorei, "claro, eu sou um chorão mesmo" esse valor que não precisei pagar é equivalente a vários dias de alimentação durante a viagem, ainda mais que as outras peças tinha sido doação dos amigos Mauri Zardin e Evandro Caldeira que gentilmente depositaram esse valor na minha conta, a ideia inicial era usar esse recurso para alimentação, no entanto ja tinha passado da hora e dos quilômetros de trocar a corrente e a catraca, estava ficando perigoso de estourar a qualquer momento e provavelmente em lugares mais inóspitos possíveis, então fiz o melhor investimento possível, sem contar que aqui no Chile essas peças entre outras coisas são mais em conta que no Brasil. Entao mais uma vez meu agradecimento ao Mauri Zardin, Evandro Caldeira e Hector Donoso proprietário da Biker Donoso, não é por ele ter me presenteado, mas super recomendo essa bicicletaria se alguém estiver de passagem pelo Chile, as melhores marcas, Specialized, Scott, Cannondale só coisas top, sem contar que Hector é literalmente um mecânico de mãos cheias, é certificado pela Specialized, tem cursos nos Estados Unidos, Colômbia entre outros países, vale a pena ir conhecer a loja.
Já passava das 13 horas quando sai da loja, então pedalei pela Ruta 5 por alguns quilômetros até chegar em um posto de combustível da rede Copec, sempre tem bons banheiros, ducha e internet, ali fiquei sentado na saída do posto em uma sombra lendo um livro qur tinha ganhado em Buenos Aires do meu amigo que embalou a bike na rodoviária e logo em seguida parou um carro pedindo se eu queria carrona, mas infelizmente esse carro não passaria de Santiago, o meu problema era a dita capital, muito trânsito e nada segura para pedalar, então recuso a primeira oferta de carrona, em seguida eu comecei pedir carrona, logo outro carro parou, mas também não passaria de Santiago, em uns 15 minutos 4 carros pararam para conversar comigo, e até então nem um deles passaria da capital, mas já via que as coisas mudaram quanto a pedia carrona acompanhado de outro Ciclista, agora sozinho era bem mais fácil as coisas, talvez por eu estar limpo e até usando uma camisa branca que ganhei de Hector, isso passa uma boa imagem, então de repente parou um carro e fui conversar com ele, inicialmente ele iria só até o centro de Santiago mas como expliquei que queria passar da capital ele me disse que tudo bem, poderia ir junto, pronto, bicicleta carregada no furgão, lá fomos conversando até passar de Santiago, digo passar 140 quilômetros, inicialmente ele não iria vir tão longe, mas aproveitou para trazer um computador ou provedor para o concerto em uma cidade, aí vim de boa, seguro e comendo azeitonas, aliás descobri que as azeitonas chilenas não melhores e muito maiores que as nossas conhecidas azeitonas argentinas, e aqui também é incrível o lugar onde são plantadas, nas encostas da cordilheira, praticamente impossível de fazer a colheita, pelo menos no meu entendimento e do motorista não conseguimos pensar em como fazem esse serviço.
Minha carona me deixou na Ruta 5, de lá iria seguir pedalando rumo a cidade de Los Vilos, já no litoral Chileno, porém precisava abastecer minha cozinha, vejo que ao lado esquerdo da Ruta tem uma pequena vila chamada Pullally, resolvi entrar e procurar algo para comer e preparar para a janta, logo no primeiro local as pessoas muitos simpáticas começam a conversar e rir de mim, vou no segundo lugar para procurar algo para comprar, na chegada uma familia em um carro começa me perguntar de onde era, de onde venho e para onde vou, respondi e disse que ia comprar algo para comer e procurar algum lugar para acampar na beira da Ruta, aí me falaram que tem um lago na cidade onde posso ficar, ótimo, é pra lá que eu fui, enquanto estava fazendo a janta pensei que aqui seria um ótimo lugar para descansar, resolvi armar a barraca e ficar dois dias por aqui descansando. Armei acampamento próximo ao pequeno lago, apenas três pessoas me viram chegar no local, tudo tranquilo, mas a noite a história mudou, muito vai e vem de pessoas, acordo várias vezes durante a noite e em algumas vezes posso ouvir as pessoas falando: Mira, un Ciclista! Mas quando ouso mais vozes juntas sempre acendo uma luz para mostrar que estou acordado. Isso não é Mimimi, quem me conhece sabe que não sou de frescura, simplesmente tenho o bom senso de saber oque é seguro para mim e oque não é. Isso também vale para as partes que peguei carona, tenho bom senso o suficiente para não me arriscar em grandes centros ou rodovias muito movimentada, peguei, pego e vou pegar mais caronas sim senhor. Hahah
Quando tem cidades próximas sempre procuro comprar comida e frutas apenas para o dia, e assim foi aqui também, voltei no armazém o de no dia anterior tinha comprado orégano, macarrão e banana, dessa vez procuro aveia, mas infelizmente não tem pra vender, ops infelizmente por que? Nada disso meu amigo, a dona no armazém foi para dentro da sua casa e apareceu com duas caixas de aveia e cereais que ela e sua família consomem, isso mesmo ela pegou uma sacola plástica me pediu qual eu preferia e meu uma porção muito generosa para meu café da manhã, isso sem me cobrar. Juro que cada dia que passa tenho mais certeza que sou uma pessoa de sorte que cruza no caminho de pessoas boas.
Durante as duas noites que dormi na beira da lagoa pude ver a lua aparecendo por de trás da Cordilheira, eu sentado em uma pedra com minha caneca de café na mão, ouvindo algumas aves que insistem em não dormir, na verdade na noite anterior algumas aves em uma árvore atrás de mim fizeram um barulho danado a noite toda, e na noite seguinte resolvi conferir que ave que fazia tanto barulho, são corujas brancas, aquelas iguais vemos nos filmes, já que na natureza não são tão fáceis assim de se ver, dois filhotes fazem uma algazarra a noite toda, um barulho alto e feio, parecem mais uns monstros do que corrujas tão bonitas. Durante a noite também passou uma pessoa perto da barraca e gritou: Peruano. Abri para ver quem era e a pessoa já estava longe, saiu correndo, mesmo assim respondi: Yo soy Brasileiro e no Peruano!!
Manhã seguinte sigo viagem, pedalo em direção ao oceano pacífico, entre algumas montanhas posso ver o mar, azul e nada calmo.
Chego em um posto de combustível para usar a internet, fico sentado na escadaria ao lado da bicicleta, algumas pessoas disfarçam e tirar fotos dela, e algumas sem inibição alguma miram o celular tiram a foto e falam: Es de Brasil. Um homem com sua filha no colo começam a conversar comigo, na verdade eu que comecei a brincar com a criança, aí começamos conversar, conversamos sobre a viagem, contei de onde vinha e para onde ia, ele sempre atento ouvindo, e eu brincando com sua filha, sua esposa chegou e nos despedimos, de repente ele me chama no seu carro, me deu um valor em dinheiro para eu comprar um almoço, juro para vocês eu não sou pedinte, não ando com o capacete na mão pedindo dinheiro, ele deu dinheiro por vontade própria, mais uma vez não sei como agradecer, enquanto volto sentar ele me chama novamente, nisso peguei um adesivo que tenho do projeto Espírito livre e lhe entrego, nisso ele já está com uma garrafa de suco nas mãos, faz questão que eu fique com o suco para me reidratar, digo que não precisa mas ele faz questão e dia que sua esposa já tinha comparado um a mais que era justamente para mim. Antes de sair ele pediu para anotar seu número do celular, caso eu precise de alguma coisa é só lhe avisar que na medida do possível ele irá me ajudar, seu nome é Angel, caso você veja essa publicação mais uma vez Gracias!!!
Nesse tempo que estou utilizando a internet resolvi ver se tinha alguém cadastrado no Warmshowers para me hospedar, e não é que tinha, envio uma mensagem pelo aplicativo e não contente resolvi anotar o número do celular da Fernanda, enviei mensagem pelo watsapp e ela respondeu, sim ela poderia me hospedar, e é aqui que estou tendo tempo e internet para atualizar as fotos, e o resto da história conto outra hora.
Abraço e até mais.
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